“— Vivemos não apenas em um mundo de impostura, mas, além do mais, cheguei à conclusão de que é impossível compartilhar qualquer experiência.

— O que o leva a pensar assim?

— Vou explicar com um exemplo: imagine que vou fazer uma longa viagem da qual não sei quando voltarei e você vai à estação de trem para se despedir. Se depois nos comunicarmos por correio ou por telefone e rememorarmos aquela despedida será pura impostura.

— Por quê?

— Não estaremos falando da mesma coisa, embora alimentemos a ilusão de que seja assim. As nossas recordações serão diferentes, quando não totalmente opostas. Você se lembra de um homem que se afasta em um trem e acena com a mão da janela. Eu, pelo contrário, me lembro de um homem que estava imóvel na plataforma e ia ficando pequeno. É a única coisa que podemos compartilhar: a sensação de que o outro vai ficando pequeno. E uma coisa que ecoa nas nossas emoções. Quando você se distancia fisicamente de alguém, sua presença em seu inconsciente se reduz progressivamente. Talvez, nesse sentido, o que aconteça em um nível ótico seja uma mera preparação para o que acontecerá na mente. Mas voltemos ao início: a experiência nunca pode ser compartilhada. É servida em recipientes individuais.”

(in Amor em minúscula, Francesc Miralles)

https://www.terapiadapalavra.com.br/entrevista-affonso-romano-literatura-escrita-transformacao/

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A prática de escrever cartas não enviadas vai além do simbolismo e tem respaldo científico como ferramenta terapêutica. Estudos mostram que essa forma de escrita ajuda a processar emoções, aliviar a ansiedade e promover o autoconhecimento. Seja para despedidas, pedidos de perdão ou diálogos internos, escrever sem a expectativa de resposta pode ser um poderoso exercício de cura emocional.

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