“… Em cada momento importante da existência, pensara ele mais tarde, deveríamos ter por perto um Arnold Taads para nos pedir uma descrição exata de nossas percepções táteis, olfativas, gustativas, de nossas reações diante do primeiro medo, da primeira humilhação, da primeira mulher de nossa vida – mas fazendo sempre a pergunta de forma imediata, para que a avaliação não perdesse a validade, e o pensamento e a experiência não fossem descoloridos por tantas mulheres, tantos medos e humilhações posteriores. Essa formulação da primeira vez iria dar o tom de todas as futuras experiências, pois estas se definiram por oposição mais ou menos marcadas àquela primeira sensação conservada para sempre como modelo, por sua superioridade ou inferioridade, pela ausência do gosto de fumaça e avelã. Vivenciar mais uma vez sua descoberta de Amsterdã, penetrar de novo pela primeira vez a amante com quem se viveu tantos anos, ter novamente nas mãos o primeiro seio de uma mulher, fazer-lhe a primeira carícia e conservar intactos para o além dos anos os pensamentos daquele momento, impedindo todas as outras vezes, as outras formas, de trair, negar, encobrir a primeira impressão.”

(Cees Noteboom in Rituais, 2ª edição, Ed. Nova Fronteira, 2008.)

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