Mariana Salomão Carrara, publicou pela Todavia o romance “Não fossem as sílabas do sábado”. Ela foi convidada pelo Quarta Capa para responder um questionário sobre memória.

Qual a sua memória mais antiga?

Uma tarde no berçário. Derrubei guaraná, um menino riu. Eu mordi o braço dele bem forte e fui levada pra sala da diretora.

Se pudesse recriar suas memórias, em qual livro você passaria sua infância?

Difícil é que que os livros bons, no geral, retratam infâncias difíceis ou a parte doída da infância; difícil então querer morar neles e fico, então, com Alice no País das Maravilhas.

Escrever é fabricar memórias?

Ler também é fabricar memórias. O maior elogio que eu recebo são as minhas amigas confusas lembrando de cenas dos meus livros como se fossem coisas que elas viveram, tentando lembrar onde e com quem – até que elas se recordam que foi a minha personagem.

Onde buscar uma palavra que você não lembra mais?

No Dicionário Analógico da Língua Portuguesa, do Francisco Ferreira Azevedo.

Se pudesse escolher cinco coisas para nunca mais esquecer, quais seriam?

Queria lembrar, em detalhes, todos os livros que eu amei, mas eu esqueço demais. Também não quero esquecer as manhãs em que a minha amiga Camila acorda aqui na minha sala, muito de mau-humor só por acordar e eu ligo “Oh, happy day” bem alto e canto e bato palmas pra ela. As Tardes no quintal dos meus amigos Renan e Márcio. A voz que o Leandro tem nas noites de domingo no karaokê que não vai ser a mesma voz daqui a 30 anos, talvez no mesmo karaokê. O barulhinho que a minha cachorra faz quando recebe carinho, ela tem 13 anos já.

O que a palavra sábado te lembra?

Feira na minha janela bem cedo e pastel.

Você já se esqueceu de quem você é o que te fez relembrar?

Os relacionamentos tóxicos podem fazer isso. O que me resgatou foi escrita e alguns amigos, voltar para eles, foi meu resgate.

Para viver melhor é mais importante esquecer ou mais importante lembrar?

Lembrar; não sei se para viver melhor, mas certamente para sentir que se viveu mais. Pra mim um dia esquecido é um dia não vivido. Me dói muito a perda dos registros mais mínimos. Se eu pudesse eu guardava todos. Minha vó às vezes não lembra quem eu sou, mas isso nem é o mais grave, ela já não pode nem lembrar o que ela acabou de comer e isso me dá a sensação de que pra viver assim, a gente teria de se reprogramar, reaprender a existência, talvez com outros bichos mais momentâneos.

Você não está se esquecendo de alguma coisa?

Sempre esqueço de regar as plantas, e elas têm um jeito muito silencioso e triste de me lembrar disso.

Para acessar, clique aqui.

https://www.terapiadapalavra.com.br/entrevista-affonso-romano-literatura-escrita-transformacao/

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