Todo mecânico tem uma caixa de ferramentas variadas. Algumas são mais usadas que outras, mas cada uma tem um propósito específico. Da mesma forma, os escritores também têm sua “caixa de ferramentas”. E ela está em constante crescimento, preenchida com itens como leituras, muitas leituras, gramática, pontuação, figuras de linguagem, rima, ritmo… e vocabulário.

Por que um vocabulário forte é importante?

Usamos palavras faladas e escritas todos os dias para comunicar ideias, pensamentos e emoções. Às vezes nos comunicamos com sucesso, e às vezes não somos tão bem sucedidos. “Mas eu não disse isso”, “Não foi isso que eu quis dizer!” etc, tornam-se nossos mantras nesses momentos de confusão semântica, mas o caos já está instalado. No entanto, um bom vocabulário pode nos ajudar a dizer o que queremos dizer – e a explicar que focinho de porco não é tomada.

Quando você é desafiado a escrever sobre qualquer assunto, seja na sua vida profissional ou privada – seja um relatório para o chefe, uma carta de amor ou um recado para a diarista – dispor de um bom vocabulário é um diferencial. Se você tem vários sinônimos em seu repertório, será capaz de escolher a melhor palavra para aquela determinada frase.

Indo além, é possível argumentar que, a rigor, não existem sinônimos exatos. Em outras palavras (sempre elas!) cada palavra é única. Duvida? Conhece algum comercial de desodorante que prometa um “sovaco cheiroso”? Você vai encontrar alguns que falam da proteção das axilas ou outros, ainda mais pudicos, que falam do controle da transpiração. Convenci? Para quem gosta do tema (e lê em francês), indico um livrinho muito legal sobre sinônimos: “Un bouquin n’est pas un livre”.

Para além das questões de equivalência ou não de termos, ter um arsenal variado de palavras também nos ajuda a evitar termos genéricos e sem graça. Como resultado, produzimos textos mais ricos, sem repetição de palavras desnecessárias. E, é bom lembrar, a escrita pode (deve) ser um exercício da liberdade. Como disse Clarice Lispector “Minha liberdade é escrever. A palavra é o meu domínio sobre o mundo.” A partir disso, voltando às ferramentas bem específicas para pensar: cada palavra inocente tem seu poder especial de captar um pedaço único da experiência humana no mundo. Palavras são poderosas, não?

Aumentando seu repertório

Uma das maneiras de melhorar o seu vocabulário é usar os dicionários. Toda gente que escreve deveria ter, além de um dicionário comum (Houaiss, Aulete), um dicionário de sinônimos e um tesauro (não, não é um tesão de dinossauro, mas um dicionário de ideias afins). E ele, como nós, também está na internet, em várias línguas. Alguns exemplos: https://www.sinonimos.com.br e http://www.thesaurus.com.

Como as palavras que não são usadas são facilmente esquecidas, além de ler muito, é preciso também escrever, afiar, usar essas palavras até que estejam devidamente incorporadas no seu HD mental. E fazer isso pode ser muito divertido! Mesmo que você seja um/a profissional das chamadas ciências exatas.

Um grupo de escritores e matemáticos criou, na França, na década de 60, um movimento chamado OuLiPo (Ouvroir de Littérature Potentielle, algo como uma “oficina de literatura potencial”), que propõe a libertação da literatura, de maneira aparentemente paradoxal, através de restrições literárias. Um de seus idealizadores, Georges Pèrec, escreveu um romance inteiro sem utilizar a vogal “e”, a mais comum no idioma francês, equivalente ao “a”, em português. Imaginem de quantas palavras ele precisou se lembrar (ou descobrir com a ajuda de um dicionário) pra conseguir essa façanha? Mas não é necessário partir logo para a escrita de um romance. Confira aqui alguns desafios propostos pela OuLiPo:

Algumas regras (contraintes – restrições)

Abecedário – texto onde cada palavra deve ser iniciada por um letra diferente na seqüência do alfabeto; exemplo: A brader: cinq danseuses en froufrou (grassouillettes), huit ingénues (joueuses) kleptomanes le matin, neuf (onze peut-être) quadragénaires rabougries, six travailleuses, une valeureuse walkyrie, x yuppies (zélées).

Lipograma – texto onde alguma letra deve ser surpimida; é o caso do livro La disparition, de G. Pérec, onde a letra “e”, vogal mais frequente no francês, não aparece.

Bola de Neve – Poema em que cada verso contém uma só palavra, sendo que, cada verso que segue, deve ter uma letra a mais que o verso anterior.

E, claro, palavras cruzadas também são uma ótima maneira de ressuscitar os verbetes que andam esquecidos aí dentro das gavetas. Tem alguma palavra ou expressão que você goste muito e use pouco? Quem sabe não chegou a hora de leva-la pra passear?

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