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“Se escrevo o que sinto é porque assim diminuo a febre desentir.”  *

 

 

 

Surgiu na minha vida como desabafo. A angústia tomava conta da minha alma. A depressão era tão forte que precisava de uma válvula de escape. Não me lembro como se deu o início. Apenas flashes de memória deitado na cama, escrevendo. Não me preocupava com forma, estilo ou qualquer coisa bela. Queria colocar para fora o sentimento. O que me restava na ocasião.

 

Escrever. Escrever. Escrever.

 

Tinha passado o pior. Felizmente. Ficou a escrita. Percebi que poderia criar algo mais que textos antidepressivos. A poesia foi mais intensa que a prosa nessa época. A rima tomou conta dos meus textos, ainda pura e inocente. Compositores de música e autores de livros me influenciaram.

 

Sentia vontade e inspiração, escrevia. Para amigos, pessoas da família e, claro, para as meninas. Fiz poemas para várias mulheres. Namoradas, amantes, casos. De algumas, me recordo, outras nem imagino quem são. Serviu de ferramenta de conquista e catarse.

 

Os textos de inconformidade tinham também seu espaço. Sempre fui questionador. Não estava satisfeito com mundo e consigo mesmo.

 

Escrevi. Escrevi. Escrevi.

 

Cheguei a fazer um livro na faculdade. Foram contos sobre fases da minha vida. Ainda bem jovem. No final do curso pensei em produzir um material com mais consistência. Abandonei a ideia e fiz uma monografia focada no profissional de mercado. Não tinha esquecido. Deixei para depois o projeto intelectual. Porém continuava.

 

Escrevia. Escrevia. Escrevia.

 

Alguns hiatos nessa história. Despertava uma necessidade, escrevia. Havia uma pasta com meus textos. Gostava de vez em quando de abri-la e ler. Um prazer enorme. Ainda em mente, fazer um livro. O profissional pesava no meu ser. Queria conquistar o sucesso profissional. Altos e baixos. O sentimento se expressava ainda. Como?

 

Escrita. Escrita. Escrita.

 

Espiritualidade, um pilar na minha vida que deixei de lado também.Já muito novo soube: sou médium. Muita responsabilidade. Deveria administrar. Não tenho dúvida que seria muito diferente se conduzisse de outra forma. Pensava que o espiritual contrapunha o intelectual. Inexperiência e ignorância.

 

Adulto, voltei meus esforços apenas para trabalho.

Labuta. Labuta. Labuta. Grana. Grana. Grana.

 

Um vazio tomou conta de mim. Nada andava. Tudo parado. Amor, profissional, família. Meus projetos se esvaíram pelas minhas mãos. Voltei a ficar bem deprimido. Andava pelas ruas pensando numa saída. Percebi alguns sinais. Pensei que estava louco. Procurei um Terreiro de Macumba. Até que veio um amor louco. Abandonei o Santo. Joguei fora a pasta com meus textos. Pensava que tinha passado por tudo nessa vida. Ainda não.

 

Sofri. Sofri. Sofri.

 

Encontrei outra Casa de Santo. Fiquei. Mais uma vez dei a volta por cima. Caminhava novamente. Tinha parado no tempo, literalmente. Faltava uma coisa que me satisfizesse. Voltei a ler bastante. Percebi que o espiritual andava lado a lado do intelectual. Noutro dia, ao ir para o trabalho, resolvi escrever. Saiu um conto. A partir deste, não parei mais. Naquele ano foram mais de 50 poesias. Resolvi estudar um pouquinho como autodidata. Uma ou outra com formatos mais estruturados. Compartilhei no Facebook. Algumas pessoas gostaram e elogiaram.

 

Achei a Terapia da Palavra. Agora sim.

 

Escrevo. Escrevo. Escrevo.

 

 

(texto de um aluno, em 2014, aqui, anônimo.)

*Livro do Desassossego, composto por Bernardo Soares, ajudante de guarda livros na cidade de Lisboa por Fernando Pessoa. Frase da página 6 no 2º parágrafo.