Escrever Cura?
Conheça a proposta da Escrita Proprioceptiva
Você já se perguntou como pode usar a escrita para se conhecer melhor? Pois a base desse método é anotar o que lhe vem à mente de maneira silenciosa e calma, enquanto faz perguntas a si mesmo sobre o que você realmente quer dizer.
O processo se dá em três etapas. Confira abaixo a explicação de Wies Enthoven, que trabalha com esse método.
O que é Escrita Proprioceptiva?
Para começar com o nome: Propriocepção deriva da palavra latina proprius, que significa “um”. Ao escrever dessa maneira, você fica ciente de tudo o que acontece em sua mente – imagens, sentimentos e ideias – das quais você normalmente não estaria ciente ao longo do dia. Somente quando você se escuta com calma e anota o que existe, você pode realmente refletir sobre seus pensamentos.
Como se escreve com este método?
Simplificando, você se senta silenciosamente em uma mesa com uma página em branco à sua frente. Por cerca de vinte minutos, você ouve seus pensamentos e os coloca no papel, enquanto faz as perguntas a si mesmo.
São três etapas importantes:
1. Anote o que você ouve.
2. Ouça o que você escreve.
3. Pergunte a si mesmo: o que quero dizer com …?
Etapa1: anote o que você ‘ouve’
Tudo o que você quer fazer é anotar o que pensa. Parece simples – e é – porque é provável que muitos pensamentos passem pela sua mente o dia todo. E, embora você nem sempre pense em palavras, pode dar palavras às imagens ou sentimentos que surgem na sua mente. Não há regras para o que pode ou não escrever. Tudo vale, porque são seus pensamentos e sentimentos. Você provavelmente não está acostumado a estar constantemente consciente de seus pensamentos. Então sente-se e não se apresse.
Pensamentos são como vozes
Para facilitar, você pode imaginar seus pensamentos como palavras, lidas em voz alta. Todo pensamento está conectado a uma voz interior. Dessa maneira, você ouve um pensamento como uma frase e também pode repeti-lo depois. Por exemplo, uma voz que diz: “Eu ainda não marquei uma consulta com o médico” e outra, de fundo, como: “Na verdade eu nem preciso ir ao médico. Só preciso pegar um pouco mais leve e me cuidar melhor”.
A maioria de nós tem várias vozes que querem nos dizer algo, mas nem sempre têm a chance: e uma voz é mais dominante que as outras. Muitas vezes, a voz predominante é a que deseja criar uma história “polida” ou “clara”; essa voz é formada pelo que a sociedade espera de você e a quer que você narre algo que os outros possam entender. Neste processo, você vai refletir sobre o que pensa – e nele não há certo nem errado. Escute a si mesmo. Ouça o que ou de que você quer reclamar: é assim que você pode explorar seus pensamentos.
Muitas vezes, você chegará a confessar pensamentos que acredita ser o único a ter, outros, que não consegue confessar nem a si mesmo. Mas lembre-se, você não irá resolver um problema fingindo que o pensamento não existe e nem descobrirá nada novo. Portanto, ignore o censor interno que diz que todos os seus pensamentos têm de ser agradáveis e felizes.
Etapa 2: ouvir o que você escreve
Você pode se treinar para ouvir seus próprios pensamentos. É uma maneira intensa e focada de ouvir e que requer curiosidade, paciência e imparcialidade. Não julgue o que pensa: escreva sem revisar. Não leia novamente enquanto estiver escrevendo. O objetivo aqui é explorar o que pensa.
A autora e educadora americana Linda Trichter Metcalf, que inventou esse modo de escrever, chama isso de sua ‘inteligência auditiva’. Todo mundo tem, você só precisa se abrir para isso. Por exemplo, pensando: Isso é interessante. Eu quero saber mais sobre isso. Portanto, além de anotar todos os pensamentos que lhe vêm à mente, você também estará examinando esses pensamentos. Compare-se com um arqueólogo: enquanto você está cavando e pensando, você encontra algo que o faz parar. Use sua lâmpada para descobrir exatamente o que é.
Aqui está outro exemplo: você pensa na cadeira azul na casa de sua avó e, de repente, vem à mente uma conversa que você teve anos atrás com sua avó quando ela estava sentada naquela cadeira. Se você quiser descobrir como foi a conversa, deixe a voz que conta a história falar e ouça. Só funciona se você não ouvir outra voz ao mesmo tempo.
Etapa 3: O que quero dizer com…?
Para verificar se você está realmente se ouvindo com sinceridade, você tem uma boa ferramenta à sua disposição: a pergunta ‘O que quero dizer com …?’ No lugar dos pontos, você preenche a palavra ou parte da frase que capta sua atenção. Faça essa pergunta várias vezes enquanto escreve: Sempre que uma determinada palavra ou parte de uma frase chamar sua atenção, pergunte-se o que você quer dizer. A pergunta nunca muda, apenas a palavra ou frase que substitui os pontos.
Usando esta pergunta, você investiga o que uma palavra significa para você. Às vezes, as palavras trazem lembranças ou sentimentos que somente você tem; Eles são particularidades da sua vida. Portanto, você não precisa definir a palavra de maneira geral, como em um dicionário.
Você só quer saber exatamente o que isso significa para você. Por exemplo, se você tem medo de altura, o termo “teleférico” terá um significado diferente para você do que para alguém que olhe um precipício a 2.000 metros sem sentir qualquer taquicardia.
Retarde seu pensamento e escreva a pergunta. Retarde a resposta antes de passar de uma ideia a outra. Raramente o pensamento vai devagar o suficiente. Como exemplo, digamos que você escreva ‘Eu amo muito minha mãe’. Depois, você se pergunte: ‘O que quero dizer com mãe?’. Escreva isso. Talvez seja a memória de como você andava de mãos dadas na praia quando era mais jovem. Pode não parecer um evento tão interessante até você começar a se lembrar cada vez mais sobre essa caminhada. Quão seguro era com a mão na mão dela, por exemplo. Ou como você ansiava pelo contato que tinha na época, porque perdeu o contato ao longo dos anos.
Dê a si mesmo a oportunidade de questionar e anotar tudo o que chega a superfície.
A escrita é uma forma de meditação.
Artigo original em inglês, no site da Flow Magazine.
As imagens, lindas, são @sistergoldenshop