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A escrita que ganha força com o poder das palavras curtas e da simplicidade

Reler Eça de Queirós continua sendo a melhor terapia para regenerar o espírito, quando nos achamos debilitados pela leitura dos jornais e por uma exposição exagerada às falas e discursos dos políticos. Foi assim que dei com um curioso texto, pouco conhecido, inserido numa edição, já com mais de um século, d’“As cartas inéditas de Fradique Mendes”. Neste texto, o extraordinário Fradique reflete sobre criação literária, defendendo a simplicidade e a clareza: “Flaubert catava dos seus livros todos os termos que não pudessem ser usados na conversa pelo seu criado: daí vem ele ter produzido uma prosa imortal. (…) O homem pensa em resumo e com simplicidade, nos termos mais banais e usuais. Termos complicados são já um esforço de literatura — e quanto menos literatura se puser numa obra de arte mais ela durará.”

Recordei-me de um comentário de Gonçalo M. Tavares, explicando o seu processo criativo: “Entre duas palavras escolho sempre a menor.”

Eis, numa breve frase, toda uma aula de escrita criativa. A propósito de aulas de escrita criativa, há muito me apercebi que o principal problema de grande parte dos jovens aspirantes a escritores — ao menos os que frequentam tais aulas —, está precisamente nesse “esforço de literatura” de que falava Eça. As coisas não mudaram muito nos últimos 150 anos. Em algumas das oficinas literárias que realizei, as primeiras aulas foram as mais difíceis, tentando convencer os alunos a esquecer a literatura para, simplesmente, escreverem. […]