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Hoje vim falar um pouquinho mais da importância da leitura na formação do escritor. Já disse algumas vezes que não acredito que possam existir bons escritores que não tenham sido, no mínimo, atentos e vorazes leitores, né? E não acredito mesmo; mas não basta ler mais, não basta nem ler muito. É preciso ler, é fundamental ler muito, ler “de um tudo” e ler muito atentamente. Duas observações aqui: você pode – e deve – priorizar o tipo de literatura que mais gosta; gosta de romances? Leia muitos romances; seu gênero preferido são contos? Então leia muitos contos; se crônicas, deve ler muitas e muitas crônicas, por exemplo. Isso vale também para  escolher os autores que vai ler. A outra observação – que é quase um conselho – é: se você não gosta de ler nada, melhor desistir de escrever agora mesmo.

Por mais que exista material teórico para nos auxiliar no ofício de escrever, há dois pilares básicos que adubam um potencial escritor: a leitura e a prática da escrita [e não conheço professor sério que discorde disso]. Mas que tipo de leitura seria esta afinal?

Em diferentes momentos, durante a leitura de alguns livros – que talvez tenham se tornado os favoritos de vocês – vivenciamos verdadeiras epifanias.

(Parênteses para quem não está lendo o suficiente e não sabe o que é epifania:
epifania | s. f.

e·pi·fa·ni·a

(grego epifáneia, -as, aparição, manifestação)
substantivo feminino
1. [Religião]  Manifestação de Jesus aos gentios, .notadamente aos Reis Magos.
2. [Religião]  Festa religiosa cristã que celebra essa manifestação. = DIA DE REIS
3. Qualquer representação artística dessa manifestação.
4. [Religião]  Aparecimento ou manifestação divina.
5. Apreensão, geralmente inesperada, do significado de algo.

“epifania”, in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa.

Fecha parênteses.)

Epifania é aquele momento da leitura em que a identificação com uma personagem, ou com o desenrolar da trama, ou, talvez, com uma determinada frase, parágrafo ou sentimento, reverbera bem lá no fundo da gente. Aquela hora em que você pensa, com seus botões ou com a pessoa que está ao lado no metrô, “caramba, esse livro é bom mesmo!”, ou “essa história é interessantíssima…” ou “esse escritor sabe o que faz.”. Enfim, qualquer coisa parecida com isso; tenho certeza que vocês entenderam o que eu quero dizer ou não estariam lendo esse texto.

A diferença entre um leitor e um escritor é que o escritor, nesse momento (ou, se for paciente, quando terminar o livro), vai reagir. Pode ser que ria sozinho, que olhe pro teto, que suspire – até aí, nenhuma diferença do simples leitor. Mas, em seguida, perguntas sem resposta vão ecoar na cabeça dele. De algum modo, intencionalmente ou não, a mente do escritor vai tentar dissecar o que acabou de acontecer. Talvez sublinhe, dobre a página, que faça anotações num caderninho.

Um escritor nunca deixa uma epifania passar em branco.

Ele vai dar um jeito de interiorizar aquele insight, aquela sensação – pelo menos subjetivamente. Se estiver mesmo determinado a ser escritor, há de voltar àquele trecho o quanto antes e se perguntar por que é tão interessante; e, talvez, formular uma meia dúzia de perguntas e respostas para o enigma. Mesmo que não chegue a uma resposta, nesse caminho ele já vai ter aprendido e apreendido muita coisa sobre o ofício de escrever.

Empatia é uma das chaves. Escolha de palavras é outra. São tantas…

Há muito mais do que teoria na aprendizagem da escrita literária. E há, sobretudo, a emoção (as boas, as más, as desconfortáveis, as agradáveis…).

Para escrever melhor, perguntem-se: no que eu tenho lido, o quê – e por quê – tem me emocionado?

(E me contem, boas dicas sempre são muito bem-vindas!)

Confira o vídeo no nosso canal no Youtube: Para ler como um escritor